quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O negro é rei no carnaval.Será?

Em tempos de eleições ditas pós-raciais na nação – pelo menos por enquanto – mais poderosa do planeta alguém pode se perguntar: qual a importância de discutir-se a participação do negro no carnaval do Brasil?

O carnaval brasileiro contém, em todos os seus aspectos, o resumo das diferenças sociais, econômicas e políticas que se apresentam na nossa sociedade. Um olhar para suas nuances pode nos ajudar a refletir sobre a condição de desigualdade que atinge os descendentes da mãe África que por aqui habitam. Vamos usar como exemplo as Escolas de Samba. Uma manifestação cultural que tem a evidente participação negra desde suas origens e que rende muitos dividendos aos seus organizadores. Poderíamos afirmar que nestas históricas instituições e no Carnaval, de forma geral, o protagonismo negro é evidente.

Afinal os negros são os grandes artistas do espetáculo: ritmistas, mestre-sala e porta-bandeira, passistas, compositores, intérpretes, etc. Pois bem, paradoxalmente na importância que o negro tem, pelo brilho que empresta ao espetáculo, está a sua enorme ausência nos centros de decisão dos destinos deste grande acontecimento cultural. Raros são os presidentes de Escolas de Samba e dirigentes da organização do Carnaval negros.

O destino carnavalesco de quem carrega o peso do surdo-de-marcação, canta e dança é decidido por outro alguém que tem poder político e econômico. Algo impossível de ser alcançado pelos negros no atual estágio da nossa sociedade. Assim no Carnaval, como em todos os setores da vida do nosso país, o negro tem – historicamente – um lugar à margem dos centros de poder. Não lhe é dada condição de igualdade para que seja comum a sua presença em postos-chave da sociedade (e no carnaval isto se replica fielmente).

Reitores, governadores e cientistas negros? No Brasil a negritude passa longe destas ocupações. Nas terras tupiniquins, ao contrário da suposta fuga da realidade que aparenta representar, o Carnaval imita a vida cotidiana e é retrato fiel dela. Infelizmente.

Romilson Madeira