quarta-feira, 18 de junho de 2008

Homenagem a J.T Meirelles


Tardiamente venho prestar uma homenagem ao músico J.T Meirelles. No último dia 5, lendo o caderno Rio do jornal O Globo, me deparei com uma nota de obituário escondida no rodapé do jornal, anunciando o falecimento desse grande instrumentista. No mínimo ele mereceria uma matéria de capa nos cadernos de cultura, mas nossa imprensa não estava muito interessada em realizar esse ato de gratidão.
João Teodoro Meirelles foi um artista raro, compositor, arranjador, saxofonista/flautista, teve enorme importância na música brasileira, desbravando os horizontes da Bossa Nova e consolidando seu nome no exterior.
No ano em que o movimento liderado por João Gilberto completa 50 anos, perdemos um dos seus principais expoentes. Meirelles atuou no cenário da música instrumental dos anos 60, e nessa época a Bossa Nova era a força motriz das orquestras e conjuntos instrumentais.
Meirelles criou juntamente com outros músicos um estilo dentro da Bossa Nova, esse estilo é conhecido como Samba – Jazz, gerado nas lendárias reuniões realizadas no Beco das Garrafas – reduto carioca de boates que tocavam Jazz no início dos anos 60 – e que o teve como principal guia das canjas e improvisos.
Do Beco das Garrafas, Meirelles partiu para os estúdios de gravação e se firmou como um dos mais atuantes arranjadores das gravadoras Philips e Odeon. E foi na Philips que produziu o primeiro disco do Jorge Ben, Samba esquema novo, sendo o responsável pelo arranjo conhecidíssimo de Mais que nada e pela projeção de Jorge. Lançou discos autorais ao longo da década de 60 junto com o seu quinteto Copa 5 formado por cobras da música instrumental, entre eles, o pianista Luiz Carlos Vinhas, o violonista Roberto Menescal, o baterista Edison Machado e o baixista Manoel Gusmão.
No final dos anos 90, o cantor e compositor Ed Motta convidou Meirelles para fazer o arranjo de Bananeira, faixa do songbook gravado em homenagem ao compositor João Donato. Com essa reverência, Ed mostrou-se grato pela influência da escola criada por J.T Meirelles. Em 2002 foi a vez de Max de Castro o convidar para participar da faixa O nego do Cabelo Bom do disco Orchestra Klaxon.
Essa redescoberta das novas gerações lhe rendeu a gravação de um disco pelo selo Dubas de Ronaldo Bastos e uma apresentação na noite de jazz do Tim Festival de 2003.
Meirelles estava sobrevivendo nesses tempos de ostracismo como professor de teoria musical e técnico de informática. Mais um exemplo de que a memória cultural brasileira vive em um constante “ Alzheimer” crônico.Sem dúvida a morte de Meirelles silenciou o som que projetou nossa música instrumental para patamares internacionais.
Cesar Garcia

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A voz essencial do samba se calou


No último sábado se calou a voz que era a essência do samba. Morreu Jamelão, José Bispo dos Santos, aos 95 anos. Intérprete dos sambas-de-enredo da Estação Primeira de Mangueira desde 1949 e o maior que já existiu. No Rádio Jamelão teve seus grandes momentos cantando obras de Lupícinio Rodrigues, algo que se tornou uma das suas marcas registradas visto que ele foi o maior intérprete do compositor gaúcho. Além de Lupicínio fez sucessos com canções de grandes mestres da música brasileira como Zé Kéti e Ary Barroso.
Nos últimos três anos tinha deixado de doar sua voz, a mais fantástica que já foi ouvida em um desfile carnavalesco, para a Mangueira. No entanto os acordes graves que entoava já soavam na eternidade. Porque pessoas como ele não morrem. Não há morte para as divindades.
Abraçou com disposição sua polêmica mais famosa quando refutou, pela primeira vez, ao vivo, em rede nacional de televisão, a alcunha de puxador. Quando a repórter assim a ele se referiu ouviu como resposta "puxador é puxador de saco, sou intérprete". Para muitos apenas uma atitude grosseira.
Na verdade com este gesto buscou engrandecer o trabalho dos cantores das agremiações carnavalescas. E desde então obrigou os jornalistas - e o público - a mudarem a terminologia. Graças a Jamelão hoje o Brasil tem vários intérpretes de samba. E o céu, porque no céu o samba é trilha sonora com certeza, ganhou sua voz mais poderosa.
Romilson Madeira
*Foto: www.uol.com.br